segunda-feira, 27 de dezembro de 2010

FERNANDO PESSOA E O NATAL



Natividade
Josefa de Óbidos, 1630 - 1684
c. 1650-60, óleo sobre cobre
21 x 16 cm
Colecção particular
Porto, Portugal


Nasce um deus. Outros morrem. A Verdade 
Nem veio nem se foi: o Erro mudou. 
Temos agora uma outra Eternidade, 
E era sempre melhor o que passou. 

Cega, a Ciência a inútil gleba lavra. 
Louca, a Fé vive o sonho do seu culto. 
Um novo deus é só uma palavra. 
Não procures nem creias: tudo é oculto. 


[Dezembro de 1922]

In Poesia 1918-1930 , Assírio & Alvim, ed. Manuela Parreira da Silva, Ana Maria Freitas, Madalena Dine, 2005 


Natal. Na província neva.
Nos lares aconchegados
Um sentimento conserva
Os sentimentos passados.

Coração oposto ao mundo,
Como a família é verdade!
Meu pensamento é profundo,
Estou só, e sonho saudade.

E como é branca de graça
A paisagem que não sei,
Vista de trás da vidraça
Do lar que nunca terei
 
30-12-1928

In Poesia 1918-1930 , Assírio & Alvim, ed. Manuela Parreira da Silva, Ana Maria Freitas, Madalena Dine, 2005

 
http://casafernandopessoa.cm-lisboa.pt/index.php?id=2241

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