28 «Deu sinal a trombeta castelhana,
Horrendo, fero, ingente e temeroso;
Ouviu-o o monte Artabro, e Guadiana
Atrás tornou as ondas de medroso;
Ouviu o Douro e a terra transtagana;
Correu ao mar o Tejo duvidoso;
E as mães que o som terríbil escuitaram.
Aos peitos os filhinhos apertaram.
29 «Quantos rostos ali se vêem sem cor.
Que ao coração acode o sangue amigo!
Que, nos perigos grandes, o temor
E maior muitas vezes que o perigo;
E, se o não é, parece-o, que o furor
De ofender ou vencer o duro imigo
Faz não sentir que é perda grande e rara
Dos membros corporais, da vida cara.
30 «Começa-se a travar a incerta guerra:
De ambas partes se move a primeira ala;
Uns, leva a defensão da própria terra,
Outros, as esperanças de ganhá-la.
Logo o grande Pereira, em quem se encerra
Todo o valor, primeiro se assinala:
Derriba e encontra, e a terra enfim semeia
Dos que a tanto desejam, sendo alheia.
31 «Já pelo espesso ar os estridentes
Farpões, setas e vários tiros voam;
Debaixo dos pés duros dos ardentes
Cavalos treme a terra, os vales soam;
Espedaçam-se as lanças, e as frequentes
Quedas co' as duras armas tudo atroam.
Recrescem os imigos sobre a pouca
Gente do fero Nuno, que os apouca.
Horrendo, fero, ingente e temeroso;
Ouviu-o o monte Artabro, e Guadiana
Atrás tornou as ondas de medroso;
Ouviu o Douro e a terra transtagana;
Correu ao mar o Tejo duvidoso;
E as mães que o som terríbil escuitaram.
Aos peitos os filhinhos apertaram.
29 «Quantos rostos ali se vêem sem cor.
Que ao coração acode o sangue amigo!
Que, nos perigos grandes, o temor
E maior muitas vezes que o perigo;
E, se o não é, parece-o, que o furor
De ofender ou vencer o duro imigo
Faz não sentir que é perda grande e rara
Dos membros corporais, da vida cara.
30 «Começa-se a travar a incerta guerra:
De ambas partes se move a primeira ala;
Uns, leva a defensão da própria terra,
Outros, as esperanças de ganhá-la.
Logo o grande Pereira, em quem se encerra
Todo o valor, primeiro se assinala:
Derriba e encontra, e a terra enfim semeia
Dos que a tanto desejam, sendo alheia.
31 «Já pelo espesso ar os estridentes
Farpões, setas e vários tiros voam;
Debaixo dos pés duros dos ardentes
Cavalos treme a terra, os vales soam;
Espedaçam-se as lanças, e as frequentes
Quedas co' as duras armas tudo atroam.
Recrescem os imigos sobre a pouca
Gente do fero Nuno, que os apouca.
42«Aqui a fera batalha se encruece
Com mortes, gritos, sangue e cutiladas;
A multidão da gente que perece
Tem as flores da própria cor mudadas.
Já as costas dão e as vidas; já falece
O furor e sobejam as lanhadas;
Já de Castela o Rei desbaratado
Se vê, e de seu propósito mudado.
43«O campo vai deixando ao vencedor,
Contente de lhe não deixar a vida;
Seguem-no os que ficaram, e o temor
Lhe dá, não pés, mas asas à fugida.
Encobrem no profundo peito a dor
Da morte, da fazenda despendida,
Da mágoa, da desonra e triste nojo
De ver outrem triunfar de seu despojo.
44«Alguns vão maldizendo e blasfemando
Do primeiro que guerra fez no mundo;
Outros a sede dura vão culpando
Do peito cobiçoso e sitibundo,
Que, por tomar o alheio, o miserando
Povo aventura às penas do Profundo,
Deixando tantas mães, tantas esposas,
Sem filhos, sem maridos, desditosas.
45 «O vencedor Joane esteve os dias
Costumados no campo, em grande glória;
Com ofertas, depois, e romarias.
As gradas deu a Quem lhe deu vitória.
Mas Nuno, que não quer por outras vias
Entre as gentes deixar de si memória
Senão por armas sempre soberanas,
Para as terras se passa transtaganas»
Canto IV, Os Lusíadas
Com mortes, gritos, sangue e cutiladas;
A multidão da gente que perece
Tem as flores da própria cor mudadas.
Já as costas dão e as vidas; já falece
O furor e sobejam as lanhadas;
Já de Castela o Rei desbaratado
Se vê, e de seu propósito mudado.
43«O campo vai deixando ao vencedor,
Contente de lhe não deixar a vida;
Seguem-no os que ficaram, e o temor
Lhe dá, não pés, mas asas à fugida.
Encobrem no profundo peito a dor
Da morte, da fazenda despendida,
Da mágoa, da desonra e triste nojo
De ver outrem triunfar de seu despojo.
44«Alguns vão maldizendo e blasfemando
Do primeiro que guerra fez no mundo;
Outros a sede dura vão culpando
Do peito cobiçoso e sitibundo,
Que, por tomar o alheio, o miserando
Povo aventura às penas do Profundo,
Deixando tantas mães, tantas esposas,
Sem filhos, sem maridos, desditosas.
45 «O vencedor Joane esteve os dias
Costumados no campo, em grande glória;
Com ofertas, depois, e romarias.
As gradas deu a Quem lhe deu vitória.
Mas Nuno, que não quer por outras vias
Entre as gentes deixar de si memória
Senão por armas sempre soberanas,
Para as terras se passa transtaganas»
Canto IV, Os Lusíadas
http://www.fundacao-aljubarrota.pt/?idc=186
E para verificar os conhecimentos:
http://www.prof2000.pt/users/rsn/exercicios/oslusiadas/sobreabatalhadealjubarrota.htm
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